Fig. - Busto do I Barao de Cabinda Dom Manuel Jose Puna
P. JOAQUIM MARTINS, C. S. SP.
(Historiador Laureado de Cabinda)
Teria nascido a 14 de Fevereiro de 1812.
Era filho do velho e muito considerado Mambuku Puna (ou Kimpuna - Tchimpuna).
No túmulo do pai de Manuel José Puna pode ler-se:
AQUI JAZ/VICE-REI/MAMBUCUO / MUENE PUNA / FAL. EM / 1851 - R. P.
Era o Mambuku Puna senhor das terras de Simulambuku (da margem do Mbuku, do outro lado do Mbuku).
Dão a data de 1 de Junho de 1819, portanto, com perto de oito anos, como sendo a da ida de Manuel José Puna para o Brasil.
Quem o mandou para lá?
1. - Na Enciclopédia Luso-Brasileira lê-se: «Foi mandado pelas autoridades portuguesas educar no Brasil, antes da independência daquele Estado.»
2. - Dos apontamentos do «Duque de Chiázi» se infere que o pequeno Puna foi apanhado, junto à praia, numa altura de carregamento de escravos, e, levado com eles.
Segundo o mesmo «Duque de Chiazi», havia uma lei que proibia expressamente o passear na praia junto. à baía, em dia de carregamento de escravos, "sob pena de ser vendido e transportado para o Brasil.»
Na véspera da saída de um barco o pequenito Puna, tendo ido até à praia para brincar e tomar banho, foi apanhado pela polícia gentílica e vendido a um capitão negreiro que o levou para o Brasil.
Não nos parece de aceitar esta versão, tratando-se do filho de um grande senhor da terra e de muito prestígio. Não é sustentada por mais ninguém.
3. -O pai, Mambuku, té-lo-ia confiado a um capitão negreiro para que o pequeno fosse educado no Brasil. O capitão, em lugar de cumprir o prometido ao velho Mambuku, conservou o pequeno como seu criado.
Quando, passados tempos, Francisco Franque vai ao Brasil já com carregamento de escravos por sua conta, soube da existência desse pequeno seu conterrâneo e de quem era filho. 0 velho Mambuku, para resgate do filho, teria entregue ao Francisco Franque cinco escravos para que o libertasse.
Das três versões qual aceitar como verdadeira?
Certo é que, em terras de Cabinda, a maioria se inclina para a terceira.
Quanto tempo ficou o Puna pelo Brasil?
O «Duque de Chiázi» dá a data de sua ida a 1 de Junho de 1819 e a do seu regresso do Brasil a 3 de Dezembro do mesmo ano.
Não nos parece muito viável. Eram morosas as viagens.
Por outro lado, sabe-se que o Puna veio do Brasil bastante bem educado e à europeia. Tudo isso adquirido só em seis meses, contando viagem de ida e volta?
Segundo as notas do mesmo «Duque de Chiázi» o Puna foi para Benguela, como empregado de Câmara (só com doze anos?) a 4 de Junho de 1820, donde regressou, 27 anos depois, a 2 de Agosto de 1847.
O Puna é feito coronel honorário do Exército Português no Ultramar a 7 de Dezembro de 1857.
A Enciclopédia Luso-Brasileira diz que visitou a Metrópole em 1866 onde foi baptizado, sendo padrinhos D. Luiz I e D. Maria Pia.
O «Duque de Chiázi» dá a ida do Puna à Metrópole para visitar os filhos que lá estudavam, o Vicente e o João, a 6 de Junho de 1871 e o seu baptismo, na capela Real da Ajuda, a 15 de Setembro de 1871.
É-lhe concedido o título de Barão de Cabinda, «de juro e herdade», por decreto e carta de D. Luiz I de 7 de Setembro de 1871.
Em «Portugal em África» - ano 1900, pág. 438/39 - lê-se:
«O Pouna (,escrito à francesa pelo P. J. C. Rooney) tinha a graduação de coronel do exército do ultramar, e quando veio à metrópole em 1871 para visitar seus filhos que cursavam a Escola Académica, foi agraciado com o título de Barão de Cabinda.
«Realizaram-se por essa ocasião as cerimónias do baptismo do novo titular, com a máxima solenidade. O baptismo foi conferido pelo patriarcha de Lisboa, sendo padrinho EI-Rei D. Luiz I.»
É pois o ano de 1871 que se deve ter em conta para a ida a Portugal.
Manuel José Puna foi o verdadeiro homem do tratado do Simulambuco. 0 tratado toma mesmo o nome do local onde ele residia e foi assinado debaixo da Nsanda das questões.
Pelo seu grande amor a Portugal, pelos seus serviços prestados à causa portuguesa foi ainda agraciado com a comenda de N. Sr., da Conceição de Vila Viçosa.
Antero Simões (em «Nós... Somos todos nós») escreve sobre o Barão Puna: «Tendo habitado no sítio, mais tarde histórico, de Simulambuco, em modesta casa de madeira, todos os europeus e naturais de Cabinda o respeitam e consideram.»
Juntemos a estes testemunhos o dos missionários que visitaram Puna em 1870.
«A recepção que o Barão de Cabinda (nessa altura ainda o não seria) faz aos missionários (P. Carrie e P. Dhyèvre), era digna d'um nobre cavalheiro. Ao jantar não se sabia o que devia admirar-se mais, se o luxo e o conforto, se o bom gosto do serviço com seus talheres de prata e louça de fina porcellana, se os manjares delicadamente servidos com seu acompanhamento de vinhos brancos, licôres e até champagne.» (Cf. «Portugal em África» - ano 1900, pág. 439).
Chegamos ainda, na década de 40, a vislumbrar um pouco deste requinte de bem receber, na recepção que era feita, na velha casa do Barão, na data do Tratado de Simulambuco - 1. de Fevereiro de cada ano, tornado dia feriado de Cabinda - por seu filho José Alberto Roberto Puna, 2.' Barão de Cabinda (que veio a falecer, em circunstâncias de não mui fácil explicação, a 12 de Novembro de 1955).
Mas, de «talheres de prata e louça fina de porcellana» já mui pouco se via.
O velho Barão Manuel José Puna, depois da fundação da Missão Católica de. Cabinda em 1891, no dia da festa da padroeira, 8 de Dezembro, nunca faltava. Fazia-se conduzir de tipoia. A sua casa distava uns bons 4 a 5 quilómetros da Missão. A seu lado, um negro trazia-lhe a farda de coronel. Vestia-a na Missão e assistia à missa solene -e ele solenemente fardado - almoçando depois com os missionários.
Manuel José Puna veio a falecer, com 92 anos de idade, a 4 de Agosto de 1904.
No seu túmulo, encimado pelo busto de D. Carlos I, lê-se:
AQUI JAZ / O 1. BARÃO / DE CABINDA / FAL. EM 4 DE / AGOSTO / DE 1904/R. P.
No túmulo de seu filho e sucessor, túmulo encimado pelo busto do Marechal Carmona, está escrito:
AQUI JAZ / J. Al-B. R. PUNA / II BARÃO DE CAB. / FAL. 12 NOV. 1955 / R. I. P.
O problema da sucessão depois da morte do segundo Barão de Cabinda, uma vez que faleceu em circunstâncias que os naturais afectos aos Punas e, sobretudo, a família julgam trágicas, não tem sido fácil. Todos os sucessores mais directos se escusaram.
Porquê? A resposta parece não ser fácil.
Mesmo assim veio a tomar posse do título (em 1957) o já velho José Lourenço Barros (Puna), apresentado como sobrinho (mas não na linha mais directa) de José Alberto Roberto Puna.
José Lourenço Barros faleceu a 7 de Setembro de 1968.
Jaz em campa rasa ao lado dos antecessores. Uma simples cruz de madeira com seu nome e data de sua morte.
Recordações e insígnias que a família Puna ainda conserva
1 - A espada e o chapéu de coronel (muitíssimo deteriorado, mais de 100 anos de existência) do velho Barão Manuel José Puna.
Fig. P5 Zimpungi e capacete do I Barao de Cabinda
2-Três grandes «Zimpungi».
3 - Duas «Bimpaba», sendo uma em prata e outra em marfim. Em marfim foi a única que vimos.
Fig. P6 - As Bimpaba dos Punas
4 - Um belo «Ngongie» (tímbalo de duas bocas) em prata. Deste metal foi também o único «Ngongie» que vimos.
Fig. P7 - O Ngongie, Koko e pegadeiras do Barao Puna
Quando o Barão se deslocava era anunciada a sua passagem pelo toque do «Ngongie». O «Mbula Ngongie» ia sempre à frente do cortejo. («Mbula Ngongie» - tocador de «ngongie»).
Tambem ver: http://kandimbafilms.blogspot.nl/2012/10/o-gunga-no-berimbau-significacao-da.html (A. Kandimba)
5 -Tem ainda o Koko. É um género de bastão com ornatos, em prata, nas extremidades. É bem bonito e de valor este Koko.
A parte inferior faz de campainha e tem mesmo um pequeno badalo. Batendo com o Koko no chão, ou sacudindo-o, anunciava a sua passagem.
6 - Duas pegadeiras, em marfim, que eram aplicadas na tipoia em furos para isso feitos e a que se segurava, com uma e outra mão.
São bem torneadas e encimadas por cabeça de mulher.
Fig. P 8 - O Mbuku-Mbuádi, cemiterio dos Punas
OS FRANQUES
É família numerosa e antiga.
Encontramos o nome de vários Franques na assinatura do Tratado de Simulambuco.
Um dos mais antigos e de quem mais se fala é do velho Francisco Franque, muito anterior ao Tratado.
Nasceu a 2 de Janeiro de 1777. Seu pai era o Mafuka Cocolo Franque. Mandou-o educar no Brasil. Para lá seguiu a 20 de Março de 1784. Regressou a Cabinda, 15 anos depois, a 19 de Maio de 1799.
Conseguiu ter barco seu. E com os conhecimentos que já possuía chegou a ir ao Brasil, por sua conta, com carregamento de escravos.
Este mesmo Francisco Franque procurou conseguir um carregamento de goma copal. Dizem que muita havia no alto da planície do Ntó. Tratava-se de goma copal dura, que só se conseguia extrair cavando junto às árvores ou pela planície fora onde já se encontrava fossilizada.
Parece que apenas conseguiu meia carga. Mas não foi por que não houvesse mais.
É que a mentalidade da época atribuía a formação da goma copal ao efeito do raio. Ora, o raio - Nzázi -é qualquer coisa de «sagrado» e enviado directamente pelo Nkisi-Nsi que, por meio dele, pode castigar os homens tanto mais se arrancam da terra o que é produto da acção do Nzazi e do NkisiNsi!...
E veio das mulheres a revolta. Para que o Nzazi e Nkisi-Nzi as não castigasse, recusam-se a arranjar mais goma copal e ameaçam não cozinhar para os homens, caso continuem nesse trabalho.
Este meio carregamento tê-lo-ia vendido no Ambriz, ao tempo o melhor porto para venda deste produto.
Francisco Franque, por serviços prestados à causa portuguesa, que se lhe reconheceram, foi feito Coronel honorário do Exército Português no Ultramar, a 5 de Março de 1803.
Veio a falecer a 30 de Abril de 1875.
Foi este velho «Chico Franque» quem recebeu também os Padres Carrie e Dhyèvre em fins de 1870 e do qual se diz: «O Chico Franque recebeu-os do seu lado com as mais espontâneas demonstrações de alegria e sincera satisfação, apertando-lhes as mãos como a velhos
amigos e chorando de emoção. Contou-lhes que tinha sido baptizado no Brasil e que desde a sua vinda para a África raríssimas vezes tornara a ver um padre; que os poucos que de longe em longe apareciam eram capelães da Armada Real ... » ( «Portugal em África», La Série, ano 1900, págs. 438/440.)
O Francisco Rodrigues Franque (também conhecido por Chico Franque) e Domingos José Franque (o de «Nós, os Cabindas») são descendentes do velho Chico Franque.
Donde lhes vem o nome de Franque?
Em apontamentos do «Duque de Chiazi» - Dom José Manuel da Conceição Baptista Franque - encontra-se o seguinte:
«O ancião Mafuca Cocolo Franque foi um homem leal, muito franco e amicíssimo para com os primeiros brancos portugueses... e a todos os pedidos que os brancos portugueses lhe faziam ele os cumpria com toda a franqueza e amabilidade ... »
E acaba o «Duque de Chiázi» por afirmar que, por isso, lhe começaram a chamar «Franco», o «Senhor Franco... » «mas com a pronúncia Cabindeana se modificou de Franco para Franque ... »
Não cremos, por nossa parte, que com tanto contacto com os portugueses se transformasse o nome de Franco em Franque. A explicação dada não concorda com o modo mais comum, segundo os usos e costumes dos Bakongo e Bauoio, de se dar ou adoptar um nome (Cf. Nomes e apelidos).
Franque, segundo a opinião do Irmão Evaristo Campos (em Cabinda desde 1895 a 1970) e confirmada por velhos de Cabinda, colhida já da tradição, teria vindo do nome de um senhor europeu, com comércio e bens em Cabinda, que era francês e até teria um nome como Franck ou coisa semelhante.
Existe mesmo entre franceses o nome de FRANQUE.
A Encyclopédia Portuguesa Ilustrada fala-nos de dois irmãos FRANQUE (João Pedro e José) gémeos, nascidos em 1774. Foram pintores.
José faleceu em 1812 e João Pedro em 1860. (Maximiano lemos, «Encyclopédia Portugueza Ilustrada» (11 Vai.), Vai. V, pág. 32 (Encyclopédia Portugueza Ilustrada, Dicionário Universal, Porto).
Faleceu o tal senhor. Vivia só. Não se sabia de sua família, Os seus bens, todos os seus bens, teriam passado às mãos da família que agora adopta o nome de Franque.
É muitíssimo mais de aceitar esta razão por se coadunar perfeitamente com os costumes quanto a tomada de um novo nome que vem provocar uma como que «mudança substancial do indivíduo.»
E isto se confirma com o que aconteceu a outros.
De onde vêm as famílias Jack, Wilson e Espanhol?
Precisamente da ligação com os ingleses Jack e Wilson e com o espanhol Dom José dei Vale.
Vamos apresentar um caso interessantíssimo da mudança de nome, precisamente na família Franque.
D. José Manuel da Conceição Baptista Franque, conhecido também por «Duque de Chiázi», falecido a 16 de Abril de 1966, apresentava-se como directo herdeiro dos Franques. E, na verdade, era na posse dele - e hoje na de seu filho D. João Maria da Conceição Baptista Franque - que se encontravam as insígnias da família.
Contudo, Dom José Manuel da Conceição Baptista Franque, Duque de Chiázi, foi baptizado a 25 de Dezembro de 1898 na Missão Católica de Cabinda, com a idade provável de 13 anos, e no baptismo recebeu o nome de Manuel e tendo o de Lambi (Manuel Lambi) como nome de família. É dado como filho de Baptista e de Lango, naturais do Kinga (Chinga). Foi padrinho Pedro Songo e baptizou-o o Padre AI. Savary. Confira-se o registo No 32 do ano de 1898.
Manuel Lambi veio a casar com Hermelinda Malila a 30 de Novembro de 1906. Confira-se o registo no 37 de 1906 da Missão de Cabinda. À margem do registo lê-se bem: Manuel Lambi e Hermelinda Malila. Mas o nubente, nesta altura, já assina como sendo José Manuel Lambi Baptista Franque. Seu filho João, no registo de baptismo, é dado por filho de Manuel Lambi Baptista Franque.
E, sem dúvida, não é muito fácil compreender como de simples Manuel Lambi se passou para José Manuel Lambi Baptista Franque e depois, não se sabe a partir de que data, para Dom José Manuel da Conceição Baptista Franque, «Duque de Chiázi» e a viver na «Avenida de Residência Real Duque de Chiázi».
Residência do «Duque de Chiázi»
As insígnias dos Franques
1 - Três «Zimpungi» - defesas de elefante tornadas instrumentos musicais.
2 - Quatro «Bimpaba». Só na família Jack encontramos igual número. Mas se juntarmos a estas quatro a que se vê na posse do Kapita de Kaio-Kaliado e onde está gravado o nome de «Bonzola Franque», teríamos cinco, pelo menos, nos Franques.
O número de «Bimpaba» pode bem estar relacionado não somente com a dignidade das pessoas mas também com a sua maior ou menor ligação em negócios com os europeus.
Em uma destas «Bimpaba» dos Franques está gravado o nome de MAFFUCA FRANQUE COKELOO (deveria ter sido gravado COCOLO).
Numa outra, somente as iniciais M. B. (Manuel Baptista?)
Há um Manuel Baptista Franque no tratado de Simulambuco.
3 - Uma bengala com castão de prata, bem trabalhado, e onde ainda hoje se pode ler perfeitamente, no topo do castão: Domingos.
Muitas vezes vimos nós o «Duque de Chiázi» com esta bengala, Deveria ter sido de Domingos José Franque.
4-Uma espécie de guizo, em prata, do formato de uma pequena cabaça em que a parte correspondente ao bocal termina numa mão fechada (nkome), em sinal de força e energia.
Nkome kakinda:
Teka vútula mbusa.
(Para se dar) um murro forte:
É preciso recuar a mão atrás (para ganhar balanço).
Fig. C7 - O tumulo do Duque de Chiazi
Ainda se encontra gravado o seguinte:
CAPITA MANITATI
FRANQUE
b) Do lado contrário a esta inscrição, tem gravado o sol (bem resplandecente) e a lua (em ponto muito menor). Isto para significar: Ngonda podi vioka ntangu ko - A lua não pode passar à frente do sol. A mulher é menos que o homem; os súbditos, menos do que o Chefe, o Rei.
c) Na parte superior, já junto ao suposto bocal e «nkome», lê-se a proveniência deste objecto: ELKINOTON & C. Liverpool.
Teria sido oferta desta firma aos Franques ou encomenda destes?
d) Em toda a volta, na parte inferior, gravada a representação da trepadeira "Kilamba."
Kilamba kikambua lisina: Nzambi ka sa kivanga ko.
«Kilamba» a que falta raiz: Deus não a fez.
O que Deus faz, fá-lo bem feito.
5 - Possuem ainda uma estatueta, também em boa prata antiga, a que chamam o «Tata Mikono.»
É a representação de um homem, que simboliza a rei, levando aos ombros dois de seus filhos.
Sempre temos visto o «Tata Mikono» com a representação de um filho só.
Tata, tala Mikono:
Ngeie v'ivembo liami ukele.
Pai, olha a planície de «Mikono»:
Tu estás no meu ombro.
O filho tudo deve ao pai, como o súbdito ao Chefe, ao Rei.
6 - Urna salva, igualmente de prata antiga e bastante pesada.
No túmulo do Duque de Chiázi, recentemente construído - em 1970 - pelo artista João Baptista Franque (que aprendeu na Missão Católica de Cabinda), vê-se uma estátua em cimento, representando o defunto (bastante parecido, não haja dúvida) de ceptro e globo nas mãos, significando realeza, de «Nzita» na cabeça e de «Kinzemba» pelos ombros, insígnias reais dos Bakongo e Bauoio.
Do lado direito nota-se o «Tata Mikono» e, do esquerdo, a cabeça de uma pessoa representando o antepassado donde proviera!
Fig. C8 - O filho e herdeiro do Duque de Chiazi
Fig. P 9 - As Bimpaba, Zimpungi e outras insignias dos Franques
Fig. P 10 - O Tata-Mikono dos Franques
MANUEL ANTÓNIO DA SILVA
O seu nome aparece muito apagadamente entre os que «estavam presentes» à assinatura do Tratado de Simulambuco.
Mas Serpa Pimentel, que muito bem o conheceu e que para Cabinda foi, como Delegado do Governo logo após o tratado, 1885, no seu «Um Ano no Congo» - trabalho iniciado nos princípios de 1897 e dado por terminado a 16 de Janeiro de 1899 - escreve a seu respeito e em seu abono o seguinte:
«Os protectorados de Cabinda não se teriam levado a efeito se não fôra o valiosissimo e desinteressado auxílio do prestante cidadão Manuel António da Silva»... (Serpa Pimentel, op. cit., in «Portugal em África» ano 1899, em nota da pág. 249.)
O terreno, onde se encontram instaladas as Missões Católicas Masculina e Feminina e os pavilhões do Pequeno Seminário, era propriedade de Manuel António da Silva que o vendeu à Missão Católica Masculina.
Por causa das novas fronteiras entre o Estado de Cabinda e o então Estado Independente do Congo-este só aceitava missionários belgas - o pessoal da nossa missão de Boma veio para Cabinda, onde chegou a bordo do «Souverain», em 5 de Outubro de 1891.
A 28 de Outubro de 1891, conforme se lê, numa crónica, cumpridas todas as formalidades, o pessoal da nova missão, ia habitar a pequena vivenda do antigo proprietário, que apenas tinha três quartos, de quatro metros cada um. ( «Portugal em África», 1.' Série, ano 1899, págs. 498 e segs.)
ANTÓNIO THIABA DA COSTA
Era natural de Chicamba, Massabi.
Foi um dos grandes colaboradores de João José Rodrigues Leitão Sobrinho no tratado de Chinfuma e o principal obreiro do tratado de Chicamba.
Muito amigo de Portugal e homem de forte influência sobre os naturais.
Por Portaria do Governo Geral de angola no 102 de 27 de Fevereiro de 1884 «atendendo ao merecimento e aos serviços prestados na ocupação dos territórios de Kakongo e Massabi» é nomeado capitão de 2 a linha da Província.
Ainda por Portaria no 491 de 6 de Setembro de 1884, do mesmo Governo Geral, «atendendo aos bons serviços prestados sempre, é nomeado chefe da delegação da estação civilizadora da Massabi».
António Thiaba da Costa veio a sofrer de perturbações mentais.
Em «No Congo Português», o governador do Distrito, primeiro tenente de marinha, José Cardoso - Cabinda 1913, escreve:
«Não será ridículo colocar ao lado destes nomes ilustres (ele fala de Guilherme Capelo, do Visconde de Cacongo, de Manuel António da Silva, Santos Silva e de Serpa Pimentel) o nome obscuro do indígena Tiaba, que tão devotado foi à causa portuguesa, e tanta confiança mereceu, que chegou a ter à sua disposição um destacamento de tropas regulares, tendo os seus serviços sido recompensados pelo Governo Português, dando-lhe o posto honorário de capitão e uma pensão que ainda hoje recebe. Tiaba ainda vive, meio maluco, sem influência sobre os nativos, conservando dos tempos idos, apenas, uma figura de preto imponente que a poucos sensibiliza e a raros lembra a relíquia que para nós representa.»
Em nota, neste mesmo relatório, se lê: «O capitão Thiaba faleceu a 28 de Agosto de 1913, sendo prestada por essa ocasião uma justa homenagem de gratidão à sua memória pela população de Cabinda.»
Bom é saber-se, contudo, que a expensas do Governo, quando Thiaba da Costa adoeceu mentalmente, foi enviado para a Metrópole e hospitalizado em Rilhafoles.
Quando o bom Irmão Gervásio foi de licença graciosa na primeira década deste século (ele que bem conhecia Thiaba da Costa, pois fora para Lândana em 1889) foi visitá-lo ao hospital.
O pobre Thiaba da Costa, saudoso da sua terra, muito insistiu com o Irmão Gervásio Dantas para que falasse com alguém de influência a fim de que lhe fosse permitido regressar à sua terra, onde desejava vir a falecer. O pedido foi feito e concedido.
Thiaba da Costa regressou a Lândana confiado aos cuidados do Irmão Gervásio.
Este último facto foi-nos narrado pelo Irmão Evaristo Campos, que veio para Cabinda em 1895, e que conheceu muito bem António Thiaba da Costa.
GUILHERME AUGUSTO DE BRITO CAPELO
Nasceu em Lisboa a 5 de Abril de 1839.
A 1 de Outubro de 1858, a bordo da nau «Vasco da Gama», embarca pela primeira vez para angola.
A partir de 1881 anda pelas costas de angola.
De 1883/85, ao norte do Zaire, autorizado pelo Governo de Sua Majestade Fidelíssima EI-Rei de Portugal, elabora os tratados de Chinfuma (29 de Setembro de 1883) com os príncipes e chefes de Cacongo, e o de Simulambuco (1 de Fevereiro de 1885) com os de Ngoio.
Em 1886 é Governador Geral de angola.
Em 1896 é nomeado Comissário Régio de angola.
Foi comendador da Ordem de Aviz e cavaleiro de várias ordens.
O Governador Geral Ferreira do Amaral, em 13 de Outubro de 1883, pede para ele ao Governo de Sua Majestade a comenda de Torre e Espada, pelos serviços prestados na ocupação dos territórios de Cacongo e Massabi. Mas com data de 5 de Dezembro desse mesmo ano de 1883 sai antes um Decreto em que lhe é concedida a Comenda da Conceição (a que vem a renunciar).
Veio a falecer a 21 de Março de 1926, com 87 anos de idade.
(Postado por A. Kandimba)
Do blog Nzila Kongo
E tambem: http://www.carlosduarte.ecn.br/franquejosepuna.htm
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