Em
Angola, haviam dias turbulentos durante os tempos de chuva e trovoadas,
em que nós, os kandenges (crianças), nos encolhíamos dos mais
próximos. Eu, como kasula, corria para os braços da irmã mais velha ou a
dona da casa, a minha mãe.
Entre
os grandes estrondos, lembro-me que éramos advertidos que, os
antepassados estariam descontentes com algo ocorrido e, que a chamada
teria que ser recompensada com oferendas.
Mas aonde estariam esses antepassados, pensava eu! E o que poderia fazer para apaziguar-los?
Na
sinceridade, não estávamos na posição de fazermos algo, pelo simples
fato que já morávamos em Luanda e os nossos antepassados, ou seja os
seus Akolokolo estão há centenas de anos nas grutas sagradas dos
Ovimbundu, no Planalto de Benguela.
Ao contrário do raciocínio de muitos, entre os séculos 16 ao 19, os Bantos (Congo/Angola) foram o grupo Africano de
maior densidade populacional no Brasil e se distribuíram por várias
regiões. E os africanos Yorubás (Nigéria, Benin,Togo & Ghana) foram
levados para lá 200 anos depois.(1)
O
povo Ovimbundu com as suas crenças, rituais e tradições, caiu vitima da
escravidão através do porto de Benguela. Pelo menos 500,000 foram
levados para Rio de Janeiro e Baía.
Nas
grutas sagrados do Bailundo, descansam restos de diversas gerações de
antepassados. Mas não são apenas restos de avós falecidos. são os
Olossoma (reis & rainhas) da nação.
De
acordo com a nossa tradição e entre muitos outros povos Bantos, os reis
e rainhas são sagrados, “quase” elevados a imagem e poder do todo
poderoso Suku ou Nzambi (Deus).
Os restos que me foram relembrados durante a minha infância, seriam os Akolokolo, crânios.(2)
O
Ekolokolo (cabeça, crânio), e’ a unica parte dos restos dos ancestrais
guardada pelos representantes dos Olossoma. Acredita-se que o Ekolokolo,
visto como a parte superior do corpo, e’ um espírito em si, a
comunicação e ligação ancestral continua entre o soberano, rei/rainha, e o
seu povo. Como um guia para o resto das suas vidas.
Foto: Grutas sagradas/Pedras Kandumbo
Ate’
hoje, mesmo depois de tantas tentativas coloniais de erradica-las,
pode-se visitar as grutas sagradas, desde que o visitante se mostre
disposto a respeitar os rituais e mandamentos de entrada e saída, como
por exemplo:
No interior da gruta, existem espaços predestinados ás mulheres de uma certa idade e, a esfregação do óleo de palma nos pulsos e
os tornozelos, também conhecido como azeite de dendê. Palavra essa que
apesar de ser invocada inumeravelmente por adeptos e sacerdotes dos
Candombles Ketu/nago, e’ pura e simplesmente Banto. Em Umbundu, Ondende, algo que purifica as nossas manchas morais e os nossos corações.
Seguindo
a noção histórica, os povos Afro brasileiros ja’ teriam, sem margens
para dúvida, o conhecimento nítido e inconfundível do conceito que tanto se
identifica hoje de Ori e do fruto do dendezeiro, respectivamente,
200 anos antes da chegado dos povos Yoruba, os donos da palavra Ori.
(A. Kandimba)
Ritual de entrada
1.Yeda Pessoa
2. Ekolokolo (singular), Akolokolo (Plural) Antonieta Kulanda
Pintura: Carybe'
FotoS: Grutas sagradas/Pedras Kandumbo (Ermelinda Buta)
Sobre Ori: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ori_%28yoruba%29