Tuesday 7 January 2014

A lenda do Joaquim Pequitito

A lenda do Joaquim Pequitito






Ao certo, ainda ninguém sabe quem Joaquim Pequitito realmente foi, de onde teria vindo e o que fazia em Mariana, a cidade mais velha do Estado de Minas Gerais.

Sabe-se que era um indivíduo de pele escura e de estatura baixa, daí o apelido "Pequitito", divino tocador de diversos tipos de guitarras, apesar de nunca ter aprendido a ler uma nota musical, e que, talvez cabuloso para alguns, há cerca de 60 anos disse orgulhosamente a uma moçinha que quando ela teria um filho que ele mesmo lhe ensinaria a tocar guitarra.

O Joaquim depois de um tempo sumiu, a moça veio a ter um filho que começou por tocar guitarra mas optou por se entregar aos espíritos dos tambores, tornando-se hoje num dos maiores e mais respeitados percussionistas da cidade de Mariana. O mestre Marcelo Magrão.

Tudo que nos resta hoje, sobre o lendário guitarrista, é uma foto a preto e branco provavelmente tirada entre os anos 40 e 50, de um desconhecido e um irreconhecível Joaquim Pequitito, ambos de guitarras nas mãos, com a imagem do Pequitito de rosto misteriosamente riscado, ou mesmo pintando da cor da noite sem estrelas.

(A. Kandimba)


Na foto, Joaquim Pequitito (direita)
Arquivo: Mestre Marcelo Magrão

Monday 14 October 2013

Umbigadas: Trechos de um fenômeno

 
"Em Luanda e outros distritos de Angola, "o batuque consiste também num círculo formado pelos dançadores, indo para o meio um homem ou uma mulher, que, depois de executar vários passos, vão dar uma umbigada, a que chamam de "semba", na pessoa que escolhe, a qual vai para o meio do círculo, substituindo-o". Foi essa umbigada ou "semba" de onde provavelmente se originou o termo "samba", de início tomado como sinônimo de batuque."  Alfredo Sarmento




O MABELO de Martinique, também conhecido como BÉLÉ nas ilhas Caribenhas de Dominica e Santa Lúcia, a PUÍTA das ilhas de São tomé e Príncipe, a REBITA de Luanda, Angola, o JONGO do Brasil, também chamado de CAXAMBU e TAMBU, e o KOLÂ SAN DJAN (unir/grudar no são João), por vezes chamado de da umbigada (dar umbigadas) ou sobâ, das Ilhas de Cabo Verde, fazem parte de um fenômeno de encontros e reencontros de umbigos entre dançarinos, caraterizado, mas não limitado, pela formação de duas linhas, mantendo a mãe África como sua principal origem e maior referência cultural.


O mundo das Umbigadas, herança marcante do ramo linguístico e cultural Bantu, levada para as americanas pelos povos de Angola e Moçambique, as suas estéticas e espiritualidades, sentimentos que nascem em nós, muito pouco explorados, e por vezes simplesmente jogados a escravidão, senzalas e cativeiros, enquanto que as outras, do mesmo continente e ascendência, são exageradamente postas aos pés da realeza e recheadas de contos nobres sobre reis e rainhas míticos, e por mais que a cultura ocidental no passado tentou-a desvalorizar, mantém até hoje uma porção do poder inerente e próprio do ventre. 
Os povos africanos levados para o "novo mundo", trouxeram em suas mentes e almas, as suas filosofias culturais. A umbigada não nasceu em cativeiros e senzalas.


O gesto "umbigo com umbigo" nao é apenas uma maneira tradicional de se cumprimentar.
Apesar do estereotípico pejorativo da evocaçao ao ato sexual, a África tradicional, ou melhor, diversos povos africanos reconhecem o ventre como uma fonte e ponto de acesso físico ao poder e força espiritual.

Essa mesma fonte espiritual pode vir a fortificar a existência e resistência das umbigadas praticadas no continente africano e pelos seus descendentes na Diáspora, motivando pesquisas com mais vigor sobre esse fenômeno de matriz africana chamado de "umbigadas".

Pesquisa e texto: A. Kandimba

Clips:

Mabelo (Martinique & Caribe):
https://www.youtube.com/watch?v=UtG2uLDEUUI
Puita (São Tome e Príncipe, África):
https://www.youtube.com/watch?v=Sv9XOo70oM0Rebita (Angola): https://www.youtube.com/watch?v=YVAfWS9ADgE

Jongo (Brasil):
https://www.youtube.com/watch?v=QKgaXb2bxPM
Batuque de Umbigada (Brasil): https://www.youtube.com/watch?v=8M3BNcQnZsUKola San Djan, Cabo Verde (Africa) : https://www.youtube.com/watch?v=zTU1Ck64tBA


Referencias: Lisa Sarasohn & Arlindo Rocha


Wednesday 28 August 2013

Macumba: Um outro ponto de vista

Macumba: Um ponto de vista diferente em relação à palavra.




Os povos Chokwe (tchokwe, Quioco) são uma etnia Bantu que, ao se envolverem historicamente com o antigo reino de Lunda, hoje se encontram desde o nordeste de Angola até ao sul do país. No entanto, também habituam uma parte da República Democrática do Congo e da Zambia.


Os adivinhos, conhecidos como Nganga ou Tahi, geralmente mediam casos tais como, doenças, mortes, infortúnios ou má sorte, impotência ou infertilidade, roubos, etc, através de vários instrumentos religiosos, dentre os quais, o Lipele.


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O Lipele (Cesto de Advinhação)
Práticas de adivinhação são métodos de lidar com o desconhecido, usando poderes espirituais. Os sinais e símbolos utilizados são considerados elementos de comunicação directa com o reino dos espíritos. Entre os Chokwe, a prática de adivinhação ocupa um lugar dominante em suas vidas, através do qual buscam-se formas de entendimento e orientação para lidar com situações de morte, doença, mudança, acidente e até mesmo na tomada de decisões. O cesto de adivinhação, constitui um dos métodos mais comuns de adivinhação praticado na comunidade Chokwe. A cesta contém variadíssimos objectos simbólicos representativos de possíveis problemas e situações sociais do universo Chokwe. (Metropolitan Museum of Art - Art and Oracle)>




O Nganga, para conservar, guardar e transportar, “
variadíssimos objectos simbólicos representativos de possíveis problemas e situações sociais do universo Chokwe” , faz uso de um recipiente. Um Balaio. Um cesto grande com tampa, e tipicamente feito de palha.

O Balaio se chama de Kumba ou cumba.

A visão desse recipiente, no meu ponto de vista, provavelmente deu a luz a expressão “bugiganga”, usada pejorativamente para desqualificar a sabedoria do adivinho e desvalorizar a religiosidade de povos africanos, como algo insignificante e de muito pouco valor.

Bugiganga = os buzios do Nganga...Os objetos do adivinho.


O prefixo “Ma”.

O prefixo Ma, e’ usado em diversas línguas do ramo bantu, especialmente na região Congo - Angola, como prefixo de plural.

Ao responder a pergunta de alguém, ou mesmo das autoridades, por exemplo:
“O que levas por ai?”...Os Nganga, responderiam:

“ As nossas Macumba! ”...Ou seja, os nossos cestos de adivinhação.
Neste sentido, macumba era/é algo usado para armazenar e transportar o lipele e seus apetrechos.

(A. Kandimba)
 
Foto: Carlos Barata

Friday 16 August 2013

Hunguhungu

Hunguhungu ou Fedu é uma forma tradicional de dança circular realizada pelas mulheres do povo Garifuna de Belize, Honduras, Nicarágua e Guatemala. A música é composta de temas rítmicos executados por três percussionistas com a alternância de cânticos de chamada-e-resposta, exibindo um património Africano claro. É por vezes combinada com Punta.

O Hunguhungu é frequentemente realizada durante um ritual chamado de adugurahani ou Dugu, praticado pelos Garifunas para se comunicarem com os seus antepassados. A dança também é exercida por mulheres Garifuna adultas durante a Semana Santa de Páscoa para indicar tristeza ou lamentação.

As canções, cantadas por elas, contém elementos e tópicos expressivos dos sentimentos das mulheres, direcionadas a situações atuais em suas comunidades, com mensagens sérias, como "Um homem que comete um crime , só vai acabar morto ", ou" um homem que comete um crime, algum dia será circulado por abutres (urubus) e iremos encontrar o corpo dele. "





Professor Angel Batiz Mejia, quoted in
Barauda brings traditional Garifuna dances to Teguz, Honduras

Pesquisa e traducao: A. Kandimba














Monday 5 August 2013

O mito Marimba: A Mãe da Música




Debaixo de uma jovem árvore musharagi, ao lado do rio, ascendeu um flamingo sagrado para o ar com cheiro de floresta. . . . E então ela apareceu, o Espírito de beleza personificada, irradiando uma beleza que falava de um Deus em sua alma.

A sua cara sensível com olhos iluminados analizando o mundo, com uma expressão de admiração profunda. O seu traje era simples: uma saia de pele de chita bronzeada, enfeitada com búzios, colar e pulseiras de cobre, gravada com símbolos de sabedorias secretas.

Esta foi a mulher que deu as tribos algumas das canções mais antigas e belas do planeta e que inventou inúmeros instrumentos, cada um destinado a levar o seu nome de uma forma ou de outra...Marimba, a Mãe da Música.




Mas uma maldição lhe tinha sido colocada pela Deusa noturna do Mal, a Mãe dos Demônios, que se aproximou dela para lhe tornar em uma das suas servas na terra das trevas. Contundo, a Marimba se recusou a fazê-lo. Ela manteve-se firme e se recusou a sucumbir às forças do mal, reconhecendo que era a sábia governante da primeira tribo governada não pela força, mas pela sabedoria e amor. Ela manteve-se firme em sua crença de que era suficientemente forte. Forte para resistir qualquer ataque, por ser abençoada com o poder da música, e então superar o mal..,

E assim, com o passar dos dias, Marimba guiou o seu povo a inventar instrumentos musicais a partir de armas dos inimigos e ferramentas cotidianas. Tambores eram feitos de morteiros vazios, arcos e harpas de arcos de caça, e marimbas de armadilhas de animais. Em vez de pegarem em armas, ao serem confrontados com a guerra, ela encorajava a se desfazerem das armas e dançar.

E então, enquanto o sol nascente lentamente enviava os seus primeiros raios para banhar as cabanas da comunidade, o povo da aldeia ficou espantado com os sons que fluiram da voz de Marimba, quando ela começou a cantar, pois nunca antes tinham ouvido tal som - um som do outro mundo jamais ouvido. Um som que flui pelo anoitecer silencioso como um rio de prata através das florestas escuras e penetra nas profundezas da alma.

"Leva a minha música nas asas da sua luz
Mantenha os meus refrões até os confins do mundo. "


Texto original de Credo Mutwa (Curandeiro tradicional e profeta Zulu)

Traducao e pesquisa: A. Kandimba

Thursday 1 August 2013

Titina Sila´, uma Heroina Africana

Titina Sila´, uma Heroina Africana (1943 – 30 January 1973)





Aproveitando hoje, dia 31 de Julho, dia internacional da mulher africana, fundado no ano 1962, em Dar es salaam na Tanzania, pela OPM (Organizacao Pana-Africana de Mulheres), e por 14 paises  e 8 movimentos de libertacao colonial, para homenagear, exaltar e, ao mesmo tempo,  conscientizar as massas sobre a guerrilheira Titina Sillas, uma heroina africana da luta pela independencia da Guine Bissau, do continente Africano e de todos outros povos oprimidos, para que a luta dela, que posterioremente foi e segue sendo a luta de todos nós, jamais seja´ esquecida.

A. Kandimba




¨De seu nome verdadeiro Ernestina Silá,(Titina Silá) foi uma combatente e formadora de milícias, que embora morrendo jovem, conseguiu fazer a diferença e cativar todos aqueles que a conheceram. Teodora Inácia Gomes, militante do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), foi uma dessas pessoas. “Em 1963, estivemos juntas na Guiné-Conacri e na frente sul. Em Agosto desse ano fomos para a antiga União Soviética fazer um estágio político”, recorda a antiga combatente, ao jornal Expresso de Portugal.


Pouco tempo depois, Titina viu-se obrigada a regressar à pátria, onde deu formação à guerrilha, mas em 1964 já estava de volta à União Soviética para estudar socorrismo.”Era uma lutadora incansável, amável, simples, uma pessoa excepcional e uma grande patriota”, afirmou a deputada guineense, sublinhando o apreço que Amílcar Cabral tinha por ela.


Titina, morreu a 30 de Janeiro de 1973, quando se dirigia à Guiné-Conacri para assistir ao funeral de Amílcar Cabral, morto uma semana antes. Teodora recorda que Titina foi vítima de uma emboscada, levada a cabo por militares portugueses que a afogaram no rio Farim, no norte da Guiné-Bissau.


Tal como muitas outras combatentes do PAIGC, que deram a vida pela independência do país,  também Ernestina não viveu o suficiente para ver este sonho concretizado.  É a pensar nelas que se instituiu o feriado não oficial que se celebra cada ano.


Questionada sobre a importância das mulheres na luta pela independência, Teodora Gomes não deixou margens para dúvidas, ao garantir que todas tinham formação militar e que ela própria chefiou uma equipa de 95 jovens mulheres. “Também dava aulas a explicar as razões da nossa luta e porque combatíamos a exploração capitalista”, explicou ainda a deputada e recordou que ”foram muitas as mulheres que deram a vida pela independência da Guiné-Bissau.”http://expresso.sapo.pt/guine-bissau-presta-homenagem-a-titina-sila=f108649


 

¨No ano de 1973 o lider do p.a.i.g.c. Amilcar cabral é assassinado em guiné-conakri país vizinho, Titina silá perde desta forma o seu mentor e amigo, assim como os povos de guiné-bissau e cabo-verde que perdem o seu lider, o homem e irmao que lutou e morreu para que todos eles pudessem viver em liberdade, uma semana depois do trágico acontecimento no dia 30 janeiro ainda abalada com o sentimento de perda Titina parte chefiando um grupo pequeno de combatentes numa canôa com o propósito de assistir o funeral do irmão e companheiro de luta Amilcar cabral a guiné-conakri quando se viu presa numa emboscada montada pelas tropas portuguesas no rio farim no norte da guiné bissau e a seguir morta por afogamento pelos mesmos, a dôr indescritivel daquele povo com certeza mora na memória dos mais velhos ainda hoje, num unico mês guine-bissau experienciou a dôr de uma mãe que perde os filhos, duas figuras africanas exemplos de justiça e igualdade entre os seres humanos, pessoas simples e afáveis, titina dedicou os seus poucos anos de vida na luta por todos estes valores e principalmente pelos direitos dum povo decidir o seu próprio destino no pedaço de terra que deus lhe deu, com esperança de um dia ver seu povo libertar se das correntes da exploração do império português, muitos concordarão que a titina como lutadora incansável e com a famosa capacidade de organização e liderança que tantos elogios e admiração lhe valeram deve ter partido com sensação do dever nao cumprido ou pelo menos nao completo, mas o que ela nao sabia foi que os anos de luta nas matas da guiné e o sacrificio na gélida uniao sovietica em prol da formaçao dos jovens e do partido p.a.i.g.c. dariam frutos mais tarde, com a vitória dos combatentes guineenses e a expulsão dos portugueses mais tarde, Titina teve a sua quota bem paga numa vitória que apesar de ser de todos os intervenientes como ela numa guerra pelo que é correcto também foi a vitória prometida pelo Amilcar cabral ao seu povo.

Ao exemplo das grandes mulheres que a antecederam desde grécia antiga ao egipto Titina lutou e morreu pelo que acreditava e amava, onde quer que esteja ela reunido com o seu amigo, irmao e mentor Amilcar cabral ,é provável que estarão a travar outras guerras lado a lado pelo que é o mais correcto, porque uma lutadora será sempre uma lutadora.

Viva Titina silá





30 de Janeiro, dia da mulher Guinense

Thursday 6 June 2013

Moreninho: Tão comum, tão cruel...

O racismo não é apenas o sentimento de ódio racial pelo outro ou outra. É uma cultura. Com certeza que foi algo cultivado para que nós todos, em geral, caiemos no buraco do sistema que o plantou.


Por exemplo...A senhora onde compro carne no espeto é maravilhosamente carinhosa e simpática comigo. E toda vez que digo obrigado, ela responde, educadamente "Obrigada voce, moreninho".

Sei que, pelo menos aqui no Brasil, a palavra moreno, morena, é uma forma de elogio. Não carrega o verdadeiro significado histórico da palavra. Fui dito que moreno por aqui seria um branco, ou branca, de cabelo preto. Típico de Portugueses, Italianos e Espanhóis, só para mencionar alguns.

Sendo assim, cada vez que ela me chama de moreninho ela automaticamente me faz lembrar que elogiar um negro é chamar-lhe de branco ou quase branco. Ou o desejo de um negro é tornar-se mais claro...branco mesmo.
Sei que a dona nunca pensou no assunto e que também nas escolas não nos ensinam essa arquitetura quase perfeita denominada de racismo.

O triste é que se lhe perguntar qual a razão em me chamar de moreninho, quando sou negro, ela provavelmente vai se espantar. Pensara', como muitos outros pensam, que muitos de nós do fenótipo africano racializamos tudo sem motivo.

Adoro a senhora mas a realidade e' que não sou e nem quero ser racializado. Nao quero ser elogiado nem de moreninho e nem de neguinho.

Texto & foto: A. Kandimba

Correcao Gramatical:
Nabbonz Wende

Tuesday 28 May 2013

O Mvet

O Mvet é tanto um instrumento musical como também uma história épica. Uma espécie de literatura cuja narrativa expõe fatos históricos e ações heróicas de personagens excepcionais. O instrumento está relacionado as etnias Fang/Beti, subgrupos de povos Bantus, que hoje habituam os países Africanos do Congo (Brazzaville), Gabão, Guiné Equatorial, a ilha de São Tomé e príncipe e Camarões.






Afirma-se ter sido criado durante o êxodo do povo Fang/Fãn, e é construído com materiais da floresta tropical Central Africana, feito de bambu, e acompanhado por várias cabaças identificadas como masculinas e fêmeninas, que ressoam quando as cordas são ligeiramente tocadas.
A história oral do Mvet é caracterizada por uma fase denominada de EKANG.
A face Ekang inclue temas spirituais e mitológicos, tais como Nzana Nga Zogo, que engloba todos os aspectos da cultura fang como a filosofia, a poesia, o conhecimento científico do mundo, histórias que honram os líderes das aldeias, histórias de heroísmo, e de inspiração as comunidades.


A lenda da criação
Segundo a lenda da sua criação, Oyono Ada Ngone foi um sábio, um fang notável, músico e guerreiro que viveu durante a longa migração do século XV conhecida como “OBANE”. Ao tentar escapar de uma batalha, uma guerra em que o seu povo foi derrotado, o mestre Oyono entrou em coma durante uma semana e foi socorrido, quase sem vida, pelos guerreiros fugitivos.


Durante o seu estado de coma, Zambe, um espírito superior, dialogou com Oyono que, em espírito, foi regalado um instrumento musical. Este instrumento serveria para despertar, restaurar a esperança, recapturar a coragem e autoestima do seu povo, através da música e histórias fabulosas do passado.


O mestre Oyono Ada Ngone construiu um instrumento musical a partir de um ramo da palmeira ráfia, tendo dado início aos contos e histórias épicas sobre um grupo de guerreiros a quem deu o nome de pessoas Engoñ / Engong, significando o povo de Ferro, invencíveis como o ferro, transformando-os em um povo guerreiro, temido por todos outros povos aos seus redores.


” Mvet” do verbo “a vet” = Elevar, superiorizar.















Referências:

Grégoire Biyogo, L'encyclopédie du Mvett
Tsira Ndong Ndoutoume, ed., Le Mvett, L'homme, la mort et l'immortalité, Harmattan, 1993
Pierre Alexandre, Introduction to a Fang Oral Art Genre: Gabon and Cameroon mvet, School of Oriental and African Studies, 1974.Aton Belinga (Camaroes); Imagens e contribuicoes.


"Em relacao a imagem da evolucao do Mvet. No começo do século XX, era comum encontrar o Mvet de uma única cabaça. De acordo com o pequisador Camarones, Aton Belinga, Fontes de Assoumou Ndoutoume são mas ele viajou intensivamente pelo Gabão e Guiné-Equatorial, tendo conhecido e entrevistado mestres e tocadores do Mvet, e reuniu uma série de informações publicadas no seu livro, Le Mvett épopée fang (Ndoutoume 1983 [1970])."
Outros textos relacionados a pesquisa:






Agogo, a mae e a criancahttp://kandimbafilms.blogspot.com/2012/11/a-mae-e-crianca.html

Monday 6 May 2013

Conguitos


Ja’ se vao 9 anos desde que trabalhei como seguranca do shopping Colombo. Centro Comercial Colombo em Benfica, Lisboa. Foi a primeira e unica vez que trabalhei em Portugal.

Como parte da seguranca, sempre usavamos codigos para certos eventos e identificacao de objectos. Usava-se muito a palavra CONGUITOS, quando as criancas acessavam o centro. Eu pessoalmente nunca fiz uso da palavra, pela simples razao de ter sido xingado de conguito no passado.


Mas Benfica e’ uma area com um grande numero de Africanos, especialmente vindos de Cabo Verde, Angola, Guine Bissau, etc...Nao demorou muito para realizar que a expressao era apenas usada para identificar as criancas que em Portugal chamamos de criancas de cor, ou seja, de descendencia africana.

Tentei varias vezes erradicar esse tipo de comportamento. Comportamento esse que considero de nivel muito baixo. Mas os “colegas”, como sempre, achavam que era apenas uma simples piada.

Quando era crianca, o boneco da embalagem carregava uma flecha, argola nas orelhas e, se nao me esqueco, um pedaco de osso no nariz.

Vejo que hoje em dia o caracter sofreu varias modificacoes. Em vez de o retirarem do mercado, inventaram um conguito branco com aqueles labios exageradamente grossos.

Enfim, a luta anti-racista em Portugal ainda continua fortemente primitiva.

A. Kandimba





Tuesday 26 February 2013

¡Kalunga Eh! Los Congos de Villa Mella. Património Intangível da Humanidade” (Republica Dominicana)

Fonte: Misosoafrica blog



Este facto histórico e antropológico revalorizante sobressai claramente na leitura de “¡Kalunga Eh! Los Congos de Villa Mella”, última obra do investigador dominicano Carlos Hernandez Soto. Este livro acaba de ser publicada em Santo Domingo pela Editorial Gráfica.

Compilação de textos estendendo-se sobre 142 páginas, redigidos depois da proclamação pela UNESCO, da Confraria dos Congos de Villa Mella “ Obra Maior do Património Oral e Imaterial da Humanidade “ , esta colectânea é , visivelmente, a continuação de trabalhos anteriores que desembocaram na publicação, anos atrás, de “ Morir en Villa Mella : ritos funerários afro dominicanos “.
Nesta análise de antropologia escatológica, o autor que dirige actualmente o Museu do Homem Dominicano, realça o papel essencial desta estrutura associativa tradicional nas cerimónias funerárias em Villa Mella, região adjacente a capital da parte oriental da antiga Española.
E, Kalunga é a sua principal peça musical e coreográfica assim que o seu grito identificador.
O estudo desta pratica ritual, sobrevivência genericamente kongo, mas na realidade bantu, que integrou , numa dinâmica inevitavelmente sincrética, diversos elementos da religião católica e crenças ioruba e ewe-fon, é feito em seis capítulos.
Hernandez Soto aborde ai, entre outros aspectos, a natureza social e a função espiritual deste reagrupamento fraternal assim que os contornos da sua expressão musical ( cantos e suportes orfanológicos ) e o registro da sua coreografia.
E, num processo comparativo, pouco sistematizado nas Américas e nas Caraíbas, o autor, que é também Professor na Universidade Autónoma de Santo Domingo, atesta a existência do mesmo tipo de confrarias no território gémeo de Haiti e em Cuba, assim que no continente, no Brasil, Panamá e nos Estados Unidos de América, mais precisamente em Nova Orleans.
UNIVERSO ESCATOLOGICO
Como provas linguísticas e antropológicas, nomeadamente congo-angola, o Director do MHD apresenta, oportunamente, no fim da sua obra, um recapitulativo de termos em uso nesta estrutura de solidariedade social.
Reencontra-se, no conjunto das diversas manifestações organizadas, neste quadro, as celebrações de maní, prováveis reminiscências das cerimónias relativas à entronização dos Mani Kongo.
E, a animação de todos os ritos da Confraria é apoiada por, principalmente, instrumentos chamados, genericamente também, congos, congas ou palos. O congo é o tambor maior e o conguito designa o batuque menor.
Quanto aos membros da associação, que devem imperativamente ser músicos ou dançarinos, são naturalmente designados congueros.
Uma das canções rituais (toques), introdutórias, é chamada bembé yagua, provavelmente uma sobrevivência do kikongo bembo nengwa (canção para embalar). E, durante a cerimonia do kumba (separação), entoa-se, entre outros lamentos, o pembé chamaliné (partida pacifica).
Os outros cantos retomados, verdadeiros requiems aeternam, são o bembo koko (reconforto solidário), mamá yungué ou ñungué (berceuse), oh yacabelo (ternura), oh kikondé, (lamento), yacuacila (desamparo), ensilla mi caballo (impotência perante a morte), gayumba eh (salvação) , alé bambó (coragem), ya lo ve (coragem) antonio bangala (fim) e lambé lo deo (comida celeste).


E esta notável continuidade linguística e antropológica, que militou afim que a exigente UNESCO pudesse declarar o conjunto das práticas rituais kongo que se perpetuaram, num sincretismo vivificador, no leste da histórica Española, riqueza cultural universal.
E, o “munsi kalunga“ dominicano considera, a justo titulo, que esta declaração deste organismo da ONU deve, na realidade, alargada a todas as Américas e Caraíbas negras, com, entres outras componentes, a Sociedade Congo, na ilha das Gonaives, no vizinho Haiti; o Congo Reales em Trinidad, em Cuba ; o famoso e indestrutível Congo Square, a qual acrescentou-se, hoje, o nome do celebre jazzman Louis Armstrong ; as representações teatrais congos na sintomática localidade de Cuango, em Panamá e as inevitáveis congadas de Atibaia, no Brasil.
Uma das principais contribuições científicas do antropólogo de Santo Domingo é de ter efectivamente posto em relevo a predominância tomada no universo escatológica bantu, depois da terrível e traumatizante travessia do oceano, pelas crenças hidrogonicas. Com efeito, o ntoto ( terra firme ) e o nzulu ( céu ) , Reino de Deus, elementos fundamentais das culturas de origem, reencontraram-se no alem -Atlântico, relegados no segundo plano, a favor do insondável kalunga ( mar ).
Os africanos encadeados nas insalubres porões dos navios negreiros, ressentiram na seu corpo e na sua alma, a força e a imensidade di nlangu ya mungwa ( agua salgada ).
Com este livrinho de Carlos Hernandez Soto, a Rota do Escravo foi, na verdade, a Viagem sobre o kalunga e a transferência, numa dinâmica verdadeiramente psicoanaleptica, dos seus tenazes mistérios.

 fotos: 
http://www.flickr.com/photos/elmaremoto/119181596/