Monday 21 March 2011

Em defesa do Negro Brasileiro


Em defesa do Negro Brasileiro
Por: Aristóteles kandimba

A ONU (Organização das Nações Unidas) proclamou este ano de 2011 o ano dos afro-descendentes, ou melhor dos descendentes de Africanos. Por esta mesma razão floresceu uma velha vontade, uma espécie de “reencontro” com os povos da Diáspora. Conectar-me com essas comunidades que nas suas respectivas sociedades muito contribuem, mas pouco se reconhece.

O Brasil é popular. Quando se fala do Brasil fala se da felicidade Carnavalesca, da música e do futebol…o resto é quase sempre de mínima importância.

Com essa popularidade nós os estrangeiros sentimos a necessidade de explorar e compartilhar esse mesmo ambiente de felicidade eufórica. Mas a minha ligação com o Brasil não é limitada a festa do carnaval.

O meu avô paterno nasceu em 1910 e das inúmeras vezes que nos contou as suas estórias da vida esta em particular ficou marcada na minha mente. “ Ché! Eu já só kota! Quando era kandengue (criança) vi no kimbo (aldeia) nossas famílias sendo levadas pro Kaputo (terra de brancos)”.

Nunca se entrou em muitos detalhes e o kota (mais velho) faleceu durante minha ausência em Angola. Oficialmente a abolição em Brasil teria sido declarada em 1888, mas a escravidão não, continuou.

Foram quatro meses ao todo, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia, conhecendo uma bela comunidade negra de todas as classes e cores…homens, mulheres, e crianças em prol de seus viveres e suas comunidades num orgulho energético de arrepiar.

Apesar da falta de oportunidades sociais, seja qual for a razão o sorriso sempre encontra o seu tempo de reinado. Nasce-se, cresce-se, estuda-se, trabalha-se, enfim, o coração de uma nação.

Porem não levou muito tempo para compreender que o negro no Brasil luta para comer e por vezes penso que luta para não morrer. Isso vai contra a idéia que a grande maioria de nós estrangeiros possuímos.

A terra maravilhosa em que ninguém é discriminado pela cor da pele…O maior e melhor exemplo de uma democracia racial no mundo.

Quem transporta a cultura Afro-Brasileira para o exterior são de maioria os brancos brasileiros e são eles que mais oportunidades econômicas possuem para tal.

Seja o conhecimento cultural dos mesmos de quantia medíocre ou não, o positivo é a divulgação de uma nova expressão cultural em terras alheias e o negativo seria o que escutei várias vezes:

“Não existe o racismo no Brasil, são os negros entre eles mesmo que praticam”, ”o Ilê Aiyê é uma organização racista” e “O Abdias de Nascimento é um racista”.

Isso indiscriminadamente mexia com a minha mente, eu pensava “Engraçado, mas eles dizem que não existe racismo no Brasil???” Enfim…

Os ataques feitos à comunidade neste ano de reflexão tem me abalado bastante. Primeiramente diria que há um nível muito elevado de mortes por homicídio de jovens negros brasileiros.

As estatisticas sao impossiveis de serem ocultadas. Em segundo lugar ressaltaria os ataques e injurias na internet, entre estes os particados por uma entidade denominada “Brazil’s Black”.

Brazil’s Black atualmente “Etnia Brasileira”, é uma organização (apesar de não se revelar como tal) que declara ter objetivo de conscientizar primeiramente os negros Brasileiros por meios que concebo como injúria, calúnia e humilhação.

Um fuzil de difamação em que as balas só atingem a homens, mulheres e crianças Afro-Brasileiras usando a imagem de negros para rebaixa-los. Diante dos olhos pelo que sabemos seria uma mulher negra. E isso dói. Dói naturalmente porque mexe com nossos sentimentos. E’ um de nós. Logo vem o “Deixa isso, não ligues!…”isso é roupa suja! “ e o mais popular…”ah isso é insignificante”!

Cito uma pesquisa feita por um kota afro-brasileiro (Spirito Santo). Ele o faz de uma maneira meio cínica, mas efetiva.

Eugenia Black! Já tinha visto esta? pois então leia abaixo parte dos objetivos...'ideológicos' de um book do que parece ser uma agencia brasileira de modelos negros chamada Brazil Black's no Flickr.
Quando a gente pensa que já viu tudo...


Brazil’s Black:”Os mestiços,"brancos" em sua quase maioria tem uma mentalidade muito mais coletiva e abrangente do que os negros (afro) principalmente aqueles de ONGS...!

Se o nome fosse outro provavelmente a maioria dos participantes não encontrariam uma identificação imediata!

Queremos tirar a imagem NEGATIVA que e’ VENDIDA pela mídia e pelos próprios negros internacionalmente por isso o nome foi mantido em inglês!"



Spirito Santo: Pera lá. Deixa eu entender:
Os mestiços 'brancos'? (Que raça é esta mermão? Seriam os brancos que não são brancos porque não existem raças?) Ou seriam os mais brancos entre todos nós?

Mama mia! Eles estão dizendo mesmo que estes...mestiços 'brancos' são...de mentalidade superior aos negros? Mas que negros ('afros', eles enfatizam) são estes, Deus do céu? Mas não disseram aí que este negócio de negro - e branco - não existe?


"Assim... como diria o Mussum se olhando no espelho_ "...Ocês cafundem meu forévis!"

Mas dizer que uma raça...vá lá...um 'biotipo' é melhor, superior que o outro não é racismo? E racismo não é proibido no Brasil e punido por lei? Meu Deus! 

Quer dizer então que este é um book DE NEGROS que declara, confessadamente, explicitamente, seu racismo CONTRA negros? E, outra pergunta... Ué? Mas racismo existe ou não existe?
... Quem sou eu? Onde estou? Ai Jesus! Quero minha mãe!



As opiniões devem ser respeitadas, mas contudo existem limites. Os insultos diários e acusações contra a comunidade Afro-brasileira muitas vezes apoiados por muitos negros - embora a maioria dos aplausos sejam de brancos – assumiu abrangência em nível internacional.

A intenção expressada na website citada: “Queremos tirar a imagem NEGATIVA que é VENDIDA pela mídia e pelos próprios negros internacionalmente por isso o nome foi mantido em inglês!" foi posta em ação.

E’ rara a ocasião em que um estrangeiro faça uma pesquisa sobre negros Brasileiros pela internet sem tropeçar nas difamações coletivas, estruturadas, firmadas sobre a base de agressões verbais e baseadas em factos históricos obscuros sobre a comunidade Negra no Brasil.

Não seria a reação contra as cotas raciais que me incomoda, mas sim o uso corrente de expressões ofensivas como “pára de ser preguiçoso negro vai trabalhar!”, nem seria o fato que várias publicações de Monteiro Lobato serem de natureza preconceituosa, mas pelo fato absurdo de entidades como esta tal de ‘Etnia Brasileira’ acusar a comunidade negra que sente racialmente e etnicamente ofendida pelas publicações (com toda razão) de tentar destruir o que ela/eles intitulam de uma grande parte da bela literatura Brasileira.

O grave fato de ignorar um efeito prejudicial dessa magnitude abrirá portas a tantos outros que futuramente pretendam nos agredir (negros) sem medir consequências.

É antiético e imoral que um povo consciente do seu sofrimento e com feridas ainda por sarar deixar-se expor, vulneravelmente a sua imagem e reputação abrindo a mão da crítica veemente à difamação. Sejam negros ou não a natureza racista e as idéia preconcebidas desta instituição “Etnia Brasileira” deviam ser investigadas, denunciadas em público, e juridicamente acusadas de racismo.

A luta contra o racismo não é contra uma cor mais sim contra uma ideologia. Não devemos em momento nenhum ter receio de proteger a auto estima e dignidade de nossos jovens e crianças seja quem for o feitor. Todas as injúrias raciais que a nossa geração ignora hoje serão servidas na mesa da próxima geração.

E mesmo quando não forem convidados como ainda acontece farão parte das migalhas.

Seguindo a regra em que um grupo de pessoas são como um homem ou mulher individual, suplico que se resgate a nossa dignidade aconselhando a todos membros da comunidade Afro-brasileira a investigar e denunciar estes atos anti-negro, juntamente com a denúncia dos indivíduos inescrupulosos que, conscientemente mantém laços artísticos e econômicos com o Brazil’s black.

Tuala kumoxi (estamos juntos)