Thursday 15 September 2011

Trança-se os cabelos mas não os miolos Part 2

Foto: Leticia Enne













Para os bem intencionados leitores da primeira crônica…

O encanto de entrelaçar cabelos é uma arte de fascinar serpentes. E como tal, require inúmeras horas de dedicação, concentração e imaginação do artista.
Elas transmitem uma mensagem cultural desde as descobertas das pinturas nas montanhas do deserto de Sahara, cerca de 3000 A.C., no Norte de África.

Expressões religiosas, laços de consanguinidade e de aliança, posições sociais, idade e identidade étnica, fazem parte do atributo vasto e do simbolismo do cabelo trançado.



Sona (plural de lusona),  são desenhos geométricos feitos com um só traço, oriundos de uma grande tradição angolana dos povos Lunda-Chokwe e que ilustram provérbios, fábulas, jogos, animais, enigmas e matemática.

Citados recentemente pelo cientista e pesquisador matemático norte Americano, Dr. Ron Eglash , após intensas pesquisas em diversas sociedades tradicionais Africanas, o cientista realçou, o que tem sido essencialmente praticado e transmitido a centenas de anos e de geração a geração, que uma grande parte dos desenhos culturais são realmente baseados em princípios matemáticos.

E como qualquer outra arte africana, as tranças e penteados, demostram  o uso de diversos conceptos como geometria, a tradução, a rotação, a refleção e a dilatação.

O título, “trança-se os cabelos mas não os miolos”,  exclue qualquer sentimento nacionalístico. Basea-se numa mensagem e troca de ideias dirigidas a todos, principalmente para os que mais fazem uso delas, os Africanos do continente e os negros das diásporas.

Realmente existem tranças, e de uma presença robusta, que refletem modelos vindos da África Ocidental (Nigéria, Benin, etc). Tal fato jamais será negado!

Mas o meu manifesto foi e persiste, que nem todas pertencem exclusivamente a matriz cultural academicamente denominada  de Yoruba - Nagô.

Foi uma importante propaganda para as tranças no Brasil. Foi nos anos 70. Foi a época que esta ideia ‘supremacia Nagô’ ficou popular no Mov. Negro. Tudo passou a ser ‘Nagô’ nesta época.
Spirito Santo

As tranças especificamente denominadas de Nagô , são uma expressão típica da nossa negritude. Encontram-se com variedades em quase todos cantos do continente africano, como igualmente nas suas diásporas.

Elas fizeram parte do Império da Etiópia, desde a história bíblica sobre a rainha Sheba (também conhecida por Makeda) e do Rei Salomão.

Os Etiopos são dos povos Africanos que mais as cultam, chamando-as de  Sheruba. ( ver pintura antiga)






A Imperatriz  Taytu Betul (c. 1851 –  1918), esposa do Imperador Menelik II e os  Imperadores Tewodros II (c.1818-1868) e  Yohannes IV (1837 – 1889) , teriam sido os que mais reforçaram a popularidade das mesmas tranças, fazendo-as de uma certa forma, um símbolo de realeza.

A Imperatriz  Taytu Betul (c.1851–1918), esposa do Imperador Menelik II.
O  Imperador Tewodros II (c.1818-1868).











Emperador Yohannes IV (1837 – 1889).












AtitudesNegra Tranças, Rio de Janeiro : acredito, mas na sua opinião qual seria o nome correto para as tranças?

Não declaro que possuo os nomes “corretos” de tranças e penteados, mas sem dúvidas que existem outras opções mais apuradas.

Encontro-me longe das intenções de disvalorizar os trabalhos e projetos orgulhosamente realizados ao longo dos anos, por descendentendes de africanos nas suas respetivas comunidades.

Ao contrário! A continuaçao da herança de trançar os cabelos, tem sido um dos pilares mais visíveis e efetivos na questão da auto estima, ligação ancestral e reafirmação de identidades.


O que de uma maneira comum se chama de tranças Nagô, apesar de refletir objectos de tecer, possue fortes assemelhações e vínculos históricos e culturais com o grão que se faz fubá, o milho.

Fúba em Angola.

Os negros norte Americanos optaram desde os anos 50, por identificar as tranças simplesmente e de uma certa forma mais próxima do pensamento dos seus antepassados, de cornrows, Linhas de milho...tranças de milho.

“Seu cabelo, seu estilo”


































Trança-se os cabelos mas não os miolos...PARTE 1


Denominar  estas tranças  simplesmente de nagô e’ RIDICULO! Digno de riso e merecedor de escárnio.

Sei que na África tradicional tranças teem significados importantissimos e refletem eventos na vida de pessoas. Mas este tipo de tranças são feitas em vários lugares e culturas no continente.

Não pertencem apenas a uma etnia ou área geográfica!

Nagô e’ uma expressão que identifica povos,cultura, saberes e rituais da África do norte (sudão) e do Ocidente , principalmente nas diásporas como Brasil e Cuba.

Ora, os negros do Brasil e de Cuba são de maioria descendentes de povos vindos de Angola e do Congo (bantus)...A escolha de identificar as tranças como nagô e’ de muito mau gosto.

O nagôcentrismo como o racismo e’ estrutural...