Sunday, 8 January 2012
MANDOMBE, a escrita dos negros
“ Wabeladio Payi, na altura um jovem católico congolês, teve uma revelação através da qual recebeu os rudimentos da escrita mandombe...A escrita dos negros.”
As chamas do antigo Império do Kongo, uns dos maiores reinos Africanos fundado no século XIII, estão longe de serem extintas e prosseguem a provocar admiração, espetáculos maravilhosos e intervenções de forças estranhas.
Mandombe, literalmente «para os negros», «à maneira dos negros» ou «o que pertence aos negros», ao meu querer, destaca-se como um dos frutos colhidos das sementes de resistência cultural, plantadas durante os primeiros contactos entre os povos Kongo e os navegadores e missionários Europeus. Portugueses expecificamente.
Wabeladio Payi, o fundador do sistema Mandombe (1978), afirma ter sido visitado pelo espírito do profeta Simon Kimbangu, comunicando-o que:
“Eu vou-lhe atribuir uma missão para o povo negro”
...Que depois desenvolveu engenhosamente, e que o levou a converter-se à religião kimbanguista.
Eu morei perto de uma igreja Kimbanguista em Luanda e ainda me sinto enfeitiçado pelos seus sinos e pelas simples melodias e harmonias do Gospel.
O Kimbaguismo (1921), pode-se afirmar que de uma certa forma nasceu das visões e ideologias relacionadas com o nacionalismo negro. Um movimento messiânico liderado por Simon Kimbangu (1890 - 1951), que buscava organizar a população do Congo Belga contra a cultura européia e as missões católicas.
De acordo com vários factos históricos escritos por capuchinhos (padres católicos), no início dos anos 1700, o Papa Clemente XI teria sido informado sobre as actividades e militâncias nacionalisticas no reino do Kongo, lideradas por uma jovem africana nascida em Mbanza Kongo, hoje parte da República de Angola.
A jovem teria entre os seus 18 e 22 anos de idade e era conhecida por Beatriz Kimpa Vita (1684-1706).
*Kimpa Vita foi uma profeta feminina popular no reino do Congo, uma precursora das figuras proféticas das igrejas independentes e a criadora de um movimento que utilizava os símbolos cristãos, mas revitalizou as raízes culturais tradicionais do Congo.
A segunda metade do século XVII foi caracterizada por uma desintegração cultural e um desarranjo político no Congo... Dentro desse vácuo cultural e político, diversos profetas messiânicos surgiram para proclamar suas visões sócio-religiosas. A mais importante entre eles foi Kimpa Vita, uma jovem moça que acreditava estar possuída pelo espírito de Santo Antônio de Pádua, um santo católico popular e realizador de milagres.
Ela começou a pregar na cidade congolesa de San Salvador, a qual declarou ser desejo de Deus que fosse novamente tornada capital. Seu apelo pela unidade obteve um grande apoio entre os camponeses, que migraram em massa para a cidade, identificada por Kimpa como a cidade bíblica Belém.
Ela disse a seus seguidores que Jesus, Maria e outros santos cristãos haviam sido realmente congoleses..
O movimento Antoniano, iniciado por Kimpa, sobreviveu a ela. O rei do Congo, Pedro IV, utilizou-o para unificar e renovar seu reino. As idéias de Kimpa perduraram entre os camponeses, aparecendo em diversos cultos messiânicos até que, dois séculos depois, tomou nova forma na pregação de Simon Kimbangu.
*(Norbert C. Brockman)
Hoje, o Mandombe ensinado nas escolas da igreja Kimbanguista em Angola, na República do Congo e na República Democrática do Congo, é uma das escritas africanas mais estudadas e conhecidas na África Central, usado para transcrever diversos idiomas do ramo Bantu, tais como o Suaíli tshiluba e o Kikongo.
Sejam quais forem as dúvida postas perante as as visões espirituais do povo Kongo nos últimos 400 anos, o sistema mandombe reflete o contínuo anúncio da libertação do homem negro, da opressão do colonialismo e subjugação branca.
Alphabeto mandombe:
Wabeladio Payi, e’ Professor na Université Simon Kimbangu, aonde o mesmo explica a origem e os desenvolvimentos deste alfabeto, ajudando-nos a perceber as lógicas culturais e religiosas subjacentes ao fenómeno.
wabeladio@mandombe.info
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