Sunday, 29 January 2012
Kianda de Luanda
Foto:Bessanganas de Luanda
"Minha mãe a sereia me agarrou...Minha mãe a sereia me agarrou...Pelo cordão de ouro...Pelo cordão de ouro...Tum Tum sereia...Tum Tum sereia."
E foi assim, através desta melodia sussurrada dos lábios da minha mãe, quase sempre em noites completas e fechadas, que me viciei das estórias e lendas místicas africanas. Eu, caçulo, fixado nos espíritos dos contos, alimentando-me por completo de ensinos da vida, sobre o amor, a dor, a inveja, a traição, a amizade, a lealdade, a couragem e o medo.
Porém, era sempre o medo que mais me tocava.
Mas a Kianda não faz mal a ninguém, cansa-se de afirmar o velho Soba, o soberano dos AxiLuandas, os nativos da ilha de Luanda em Angola.
...Kianda é uma divindade das águas, protectora dos pescadores.
Conta a lenda que a ondulação do mar mantém importância decisiva na pesca e no abrandar das tempestades. Se haver falta de peixes ou bastante agitação do mar, é sinal de que a Kianda está descontente com os pescadores. Quando assim acontece tem que se realizar uma cerimónia que reúne toda a comunidade da Ilha.
E do mesmo sábio, o Soba, transmitem-se informações de geração a geração, tais como existem doenças que só podem ser curadas pela Kianda; Por exemplo, mulheres que concebem e não conseguem dar a luz.
De igual modo, existem “trabalhos” feitos secretamente na calada da noite, com a autorização e o conhecimento das mais velhas, Bessanganas*, as mulheres de respeito, devotas e guardiãs dos ritos e das tradições.
Elas fazem sempre oferendas a Kianda, oferecendo do mais valioso na exigência da divindade.
Hoje, eu chego a conclusão que o medo que sentia, já superado, foi, e sempre será uma estratégia dos Kotas, os mais velhos, para que as crianças cresçam maduras e conscientes das forças que devem ser temidas, respeitadas e homenageadas.
Bessanganas do português “bença ou benção” .
Nga...Ngana = Senhora (Kimbundu).
Bessangana...A sua benção senhora.
A. Kandimba
Adaptações de contos tradicionais, de Mario Domingos Francisco e Felipe Miguel.
Sunday, 22 January 2012
“Eu sou da nação de Quissamã”
A história dum povo é um diamante.
Uma pedra preciosa, rica e vibrante,
que por sua beleza, raridade e resistencia deslumbrante,
nós eleva com asas de luz viva e cintilante.
(A. Kandimba)
O “Roteiro dos Sete Capitães”, escrito por Miguel Aires Maldonado, conta que o nome “Quissamã” (Estado do Rio de Janeiro), foi dado à região em sua viagem de exploração no ano de 1632.
Na sesmaria que os Sete Capitães tinham recebido, havia um aldeamento de índios Goitacases conhecido como Aldeia Nova. Ao chegarem para conhecer o local, eles foram recepcionados por um grupo de índios e um negro que vivia entre eles.
Os exploradores ficaram perplexos ao verem aquele negro morando por la’.
Ao lhe indagarem quem era e como viera parar ali, ele respondeu que era forro (escravo liberto); ao perguntarem se era crioulo (nascido no Brasil), ele respondeu que era da nação de Quissamã.
No dia seguinte, o negro, que talvez fosse um escravo fugitivo, desapareceu e nunca mais foi visto. (Historico/Quissamã)
Em Angola, Quiçama é um município da província do Bengo ao sul de Luanda, capital do pais. E’o nome do maior parque nacional e foi o reino do povo Sama ou Kissama, fronteiriço com o Reino do Kongo.
Foto: Rei Kahala, dos Kissamas em Angola.
Sunday, 8 January 2012
MANDOMBE, a escrita dos negros
“ Wabeladio Payi, na altura um jovem católico congolês, teve uma revelação através da qual recebeu os rudimentos da escrita mandombe...A escrita dos negros.”
As chamas do antigo Império do Kongo, uns dos maiores reinos Africanos fundado no século XIII, estão longe de serem extintas e prosseguem a provocar admiração, espetáculos maravilhosos e intervenções de forças estranhas.
Mandombe, literalmente «para os negros», «à maneira dos negros» ou «o que pertence aos negros», ao meu querer, destaca-se como um dos frutos colhidos das sementes de resistência cultural, plantadas durante os primeiros contactos entre os povos Kongo e os navegadores e missionários Europeus. Portugueses expecificamente.
Wabeladio Payi, o fundador do sistema Mandombe (1978), afirma ter sido visitado pelo espírito do profeta Simon Kimbangu, comunicando-o que:
“Eu vou-lhe atribuir uma missão para o povo negro”
...Que depois desenvolveu engenhosamente, e que o levou a converter-se à religião kimbanguista.
Eu morei perto de uma igreja Kimbanguista em Luanda e ainda me sinto enfeitiçado pelos seus sinos e pelas simples melodias e harmonias do Gospel.
O Kimbaguismo (1921), pode-se afirmar que de uma certa forma nasceu das visões e ideologias relacionadas com o nacionalismo negro. Um movimento messiânico liderado por Simon Kimbangu (1890 - 1951), que buscava organizar a população do Congo Belga contra a cultura européia e as missões católicas.
De acordo com vários factos históricos escritos por capuchinhos (padres católicos), no início dos anos 1700, o Papa Clemente XI teria sido informado sobre as actividades e militâncias nacionalisticas no reino do Kongo, lideradas por uma jovem africana nascida em Mbanza Kongo, hoje parte da República de Angola.
A jovem teria entre os seus 18 e 22 anos de idade e era conhecida por Beatriz Kimpa Vita (1684-1706).
*Kimpa Vita foi uma profeta feminina popular no reino do Congo, uma precursora das figuras proféticas das igrejas independentes e a criadora de um movimento que utilizava os símbolos cristãos, mas revitalizou as raízes culturais tradicionais do Congo.
A segunda metade do século XVII foi caracterizada por uma desintegração cultural e um desarranjo político no Congo... Dentro desse vácuo cultural e político, diversos profetas messiânicos surgiram para proclamar suas visões sócio-religiosas. A mais importante entre eles foi Kimpa Vita, uma jovem moça que acreditava estar possuída pelo espírito de Santo Antônio de Pádua, um santo católico popular e realizador de milagres.
Ela começou a pregar na cidade congolesa de San Salvador, a qual declarou ser desejo de Deus que fosse novamente tornada capital. Seu apelo pela unidade obteve um grande apoio entre os camponeses, que migraram em massa para a cidade, identificada por Kimpa como a cidade bíblica Belém.
Ela disse a seus seguidores que Jesus, Maria e outros santos cristãos haviam sido realmente congoleses..
O movimento Antoniano, iniciado por Kimpa, sobreviveu a ela. O rei do Congo, Pedro IV, utilizou-o para unificar e renovar seu reino. As idéias de Kimpa perduraram entre os camponeses, aparecendo em diversos cultos messiânicos até que, dois séculos depois, tomou nova forma na pregação de Simon Kimbangu.
*(Norbert C. Brockman)
Hoje, o Mandombe ensinado nas escolas da igreja Kimbanguista em Angola, na República do Congo e na República Democrática do Congo, é uma das escritas africanas mais estudadas e conhecidas na África Central, usado para transcrever diversos idiomas do ramo Bantu, tais como o Suaíli tshiluba e o Kikongo.
Sejam quais forem as dúvida postas perante as as visões espirituais do povo Kongo nos últimos 400 anos, o sistema mandombe reflete o contínuo anúncio da libertação do homem negro, da opressão do colonialismo e subjugação branca.
Alphabeto mandombe:
Wabeladio Payi, e’ Professor na Université Simon Kimbangu, aonde o mesmo explica a origem e os desenvolvimentos deste alfabeto, ajudando-nos a perceber as lógicas culturais e religiosas subjacentes ao fenómeno.
wabeladio@mandombe.info
Wednesday, 4 January 2012
As mamãs da OMA
Eu lembro-me muito bem...
Mamã da Oma foi um termo que nós, as crianças e jovens de Angola, principalmente de Luanda, usavamos para identificar as mulheres ativas da OMA, Organização da Mulher de Angola.
Foi criada em 1962 como ala feminina do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que governa o país desde a sua independência de Portugal em 1975.
Elas, guerrilheiras do exército dentro e fora de Angola, também contribuíram para com a organização de campanhas de alfabetização, cuidados básicos de saúde e transportavam armamentos e alimentos a grandes distâncias.
Ocasionalmente vistas de lenço amarelo na cabeça, simbolizando a riqueza do país, camisa vermelha para o sangue derramado pelos angolanos durante as lutas pela independência e de saia preta, como simbolismo do povo africano, as suas vozes eram transmitidas através de cantares, batuques, danças e demonstrações.
Mas claro, não esquecer a Liga Independente de Mulheres Angolanas (LIMA), a ala feminina da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), fundada em 1973.
Mamã da Oma foi um termo que nós, as crianças e jovens de Angola, principalmente de Luanda, usavamos para identificar as mulheres ativas da OMA, Organização da Mulher de Angola.
Foi criada em 1962 como ala feminina do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que governa o país desde a sua independência de Portugal em 1975.
Elas, guerrilheiras do exército dentro e fora de Angola, também contribuíram para com a organização de campanhas de alfabetização, cuidados básicos de saúde e transportavam armamentos e alimentos a grandes distâncias.
Ocasionalmente vistas de lenço amarelo na cabeça, simbolizando a riqueza do país, camisa vermelha para o sangue derramado pelos angolanos durante as lutas pela independência e de saia preta, como simbolismo do povo africano, as suas vozes eram transmitidas através de cantares, batuques, danças e demonstrações.
Mas claro, não esquecer a Liga Independente de Mulheres Angolanas (LIMA), a ala feminina da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), fundada em 1973.
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