Tuesday, 30 August 2011

A falha dos mais velhos

Entre os jovens angolanos, existe uma expressão que diz “os mais velhos falharam”.




Os mais velhos seriam os nossos avós e pais , enquanto a falha, seria a falta de conhecimento de valores tradicionais, que por vezes nos ridicularizam perante um continente vasto de expressões culturais e linguisticas.

 A cultura é tudo o que se aprende com a família, a escola, o ambiente, a religião e as manifestações nacionais.
E da mesma maneira, criamos os nossos comportamentos.

Consideremos, por exemplo, a situação linguistica.


Um indivíduo da diáspora vindo do Brasil, Estados Unidos, Jamaica, Haiti, etc...Ansioso por conhecer um pouco mais sobre o seu passado,  recuperar a sua cultura, ao passar por um grupo de senegalenses escutará o Wolof.
O mesmo ao passar por cabo-verdianos escutará o crioulo e por zambianos consecutivamente a lingua Nyanja.


Mas não importa quantas vezes esta mesma pessoa cruza o caminho de angolanos, somente ouvirá a lingua do colono, o português.

Pouco saberá o individuo que muitos desses angolanos são tão orgulhosos de tal facto, a pontos de se alienarem da companhia de outros africanos, sentindo que eles possuem uma aparência mais simpática na sociedade. Ou seja, sao melhores!

A palavra hipótese não é bem vinda neste contexto, falaremos de factos!

Imagine:

A mãe do pai, com um português bastante fraco mas com forte vontade de ser considerada “assimilada e civilizada”, ocasionalmente faz lembrar os netos que se deve falar como os brancos.

O pai do pai, veterano das guerras coloniais, fez o bom trabalho de educacar os seus filhos, dizendo que  “isso” (lingua tradicional) não se deve falar por ser um atraso de vida.

O pai em retorno, transmite a mensagem para o filho. O filho por vezes se esquece e apanha umas tapas na boca por ser malcriado. Malcriado no sentido em que a criança teria repitido umas das palavras da sua lingua de origem vindo da outra avó.


A outra avó, mãe da mãe, de panos coloridos, missangas nos pulsos e cigarro ao contrario nos labios, torna-se num antepassado em pessoa!
Ela nao fala o português  para comunicar com o neto e nem o neto fala qualquer lingua Bantu.
A comunicação torna-se semi existente! Limitando-se a traduções ocasionais.

Ele perde a vontade de se comunicar com a avó, restando simplesmente o carinho natural mútuo, até o dia que a n’guma bater na porta.

O neto cresce e depara com a realidade que o nome e lingua de um individuo é um facto essencial de identidade na sociedade.

Viajando, ele realiza que de uma certa forma cada um se expressa no seu idioma. O polaco sempre fala polonês, o japonês sempre fala japonês e o somali fala o somali. Igualmente, repara que todas essas nacionalidades fazem passar a herança linguistica para os seus filhos que automaticamente faram o mesmo.

Ele se sente perfidamente roubado, violado, e traido...



Conclusão:

Existem exceções à regra, e claro que a  raiz do problema é mais profunda e complexa do que a natureza elementar do meu exemplo.
Sim, os kotas falharam de uma certa forma. Mais os kotas foram victimas de todos tipos de discriminação e disigualidades.

Mesmo que ainda em meados dos anos 70,  pessoas eram publicamente suprimidas pela policia colonial por se comunicarem em seus idiomas. Numa situação destas o abuso fisico seria posto em prática e perante os olhos da comunidade como exemplo.

Os paises Africanos de expressão portuguesa, foram victimas de uma obra de arquitectura como várias outras sociedades na diáspora.

Desde o concepto de uma África de modelo completamente europeu, a vaporizacão de costumes tradicionais e linguisticos, até a miscigenação racial sistemática.

Apesar de ser um osso duro de roer, não devemos apontar dedos aos nossos kotas, mas sim ao sistema que criou a situacão em que muitos se encontram.

Os tempos em que o nosso Umbundu, Kimbundu, Kikongo, Ngangela, Chokwe entre outras, incorretamente tinham sinônimo com ser grosseiro, mal-educado, descortês e incivil terminou!

O nosso compromisso seria gritar NUNCA MAIS!
Exigir dos nossos lideres e educadores um futuro culturalmente mais lúcido e recuperar tudo o que perdemos, ou melhor, o que nos foi roubado.

 Tuala Kumoxi! (Tamu Junto)

Foto: Eric LafforgueMucubal (Angola)

1 comment:

  1. Acho que deveria se ter um esforço dos países africanos negros para se oficializar as linguas nativas mais espressivas como a lingua oficial de cada país e tentar esquecer um pouco a lingua dos colonos europeus. No Congo uma vez me disse o marido da senhora que trança meus cabelos que o francês é a lingua oficial e comercial do país sendo que o povo de lá também fala muito o lingala, essa deveria ser a lingua oficial do país e não o idioma do colono.

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