Thursday, 22 September 2011

Trança-se os cabelos mas não os miolos PARTE 3

“Toda mulher negra tem uma estória sobre tranças com missangas coloridas ou de búzios.”


A Dona Carmen  Wijk é uma vizinha idosa, neta de escravos do suriname, antiga Guiana Holandesa, no sul do continente Americano.

Com 86 anos de idade, tem mais de mil estória que contar, claro.

Qualquer audiência serve e os relatos são quase sempre infinitos.

O que mais me impressiona sobre ela, seria uma das suas fotos dos tempos de outrora, que insiste, de um modo repetitivo, em me mostrar.




O retrato é de uma avó africana, conhecida entre familiares como avó Cambuta. A avó Cambuta ensinou-lhe a manha de entrelaçar os cabelos.

De acordo com a Dona Carmen, por mais negativa que a experiência tivesse sido para algumas meninas, as mulheres das famílias plantaram nelas o que viria a ser um ponto crucial no reencontro com as suas raizes africanas.

A senhora procedeu em contar que todas as suas filhas, netas e bisnetas fizeram e ainda fazem uso das missangas, de acordo com as suas cores preferidas, refletindo as suas personalidades.

Adoro quando ela recita o que considero poesia:


“Quem não se lembra do Mister I just called to say I love you e as
suas tranças com missangas e pedaços de bambu? O Stevie foi um dos motores por detrás do nosso orgulho...Ai daquele que me vier falar mal dele!”.


São tantas as perguntas que me faz, quase sem deixar espaço para respostas, que da última vez que me encontrei com umas das suas netas, dei-lhe um pedaço de papel com todas as informações que conheço.

Nota:

Cara Dona Carmen Wijk ,

Na diversidade e agilidade da vida, nem sempre somos sortudos em encontrar explicações para tudo que seja parte do nosso cotidiano.

Mas as missangas, como os búzios, sempre fizeram parte da expressão da nossa beleza.

Achei fantástico quando mencionou que todas as suas filhas, netas e bisnetas usam missangas de acordo com as suas cores preferidas e que refletem as suas personalidades.

Desde os povos Kwanyamas do sul de Angola, aos Xhosas e Zulus da África do Sul, existem códigos complexos usando missangas coloridas.



Por exemplo, a cor Verde=contentamento e nova vida; Branco=amor spiritual, pureza; Preto= casamento, renascimento,idade e sabedoria; Amarelo= riqueza, fertilidade; Rosa= promesa; Azul=fidelidade e solicitação e Vermelho= amor, realeza e forte emoção.




Em relação aos búzios, a parte detrás de uma concha se assemelha a um órgão sexual feminino. 
A parte frontal é moldada como o abdômen de uma mulher grávida. 

O significado não é erótico, mas representa o milagre da vida.


Espiritualmente, segundo a lenda Africana, a atração aos búzios, nos liga a um espirito do oceano da riqueza e da terra. 

Também representa a protecção de uma Deusa poderosa.


Em quase toda a África tradicional, o búzio simboliza o poder do
destino e da prosperidade, humildade e respeito.

Antes que me esqueça, o nome da sua avó Cambuta, significa uma pessoa muito energética e de estatura baixa, no idioma kimbundu do norte e do centro de Angola.


Agradeço a sua atenção.

A. Kandimba



Duvido que seja novidade para tal idade e sabedoria, mas quem sabe!

2 comments:

  1. Mande o meu abraço à Dna Carmen! Linda história, lindo texto!

    Kandimba, vc já publicou algum livro?

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