Wednesday, 26 September 2012

Rua do Poço dos Negros: Lisboa também já foi um Valongo!

“O El Rei D. Manuel I mandou abrir um poço para onde eram lançados os escravos negros, que morriam pela cidade de Lisboa.



Os cadáveres dos escravos eram atirados em montes pela saida da cidade ou para os grandes quintais dos arredores.


Para acabar e evitar as epidemias, tomou o Rei a decisão de mandar abrir um poço (ou Vala) para funcionar como cemitério dos negros, já que quando morriam não tinham direito a serem enterrados nos espaços das Igrejas.”


(Ruas de Lisboa com alguma História)

 

 


Rua do Poço dos Negros - (c. 1900) - Fotógrafo não identificado (Senhoras passeando junto ao Palácio Flor da Murta) in AFML



De acordo com Júlio de Castilho, a origem deste topónimo pode encontrar-se numa carta régia de Dom Manuel I -13 de Novembro de 1515 -, pela qual o rei pedia à cidade de Lisboa que construísse um poço para colocar os corpos dos escravos mortos, sobretudo na época das epidemias.

Diz a carta que os escravos chegavam a ser lançados «no monturo que está junto da Cruz [de Pau a Santa Catarina] q[ue] esta no caminho q[ue] vai da porta de santa C[atari]na p[ar]a santos,» para a praia.

Para evitar as consequências dos cadáveres insepultos, o rei considerava «q[eu] ho milhor remedio sera fazer-se huu[m] poço, o mais fumdo que podese ser, no llugar que fose mais comvinhauel e de menos imcomvyniemte, no quall se llãçasem os ditos escravos» e que se deitasse «alguma camtidade de call virgem» de quando em quando para ajudar à decomposição dos corpos.

A Câmara de Lisboa teria cumprido a ordem do rei construindo um poço no caminho para Santos,
também conhecido como Horta Navia.


(Freguesia: Santa Catarina)



CASTILHO, Júlio de, A ribeira de Lisboa: descrição histórica da margem do Tejo desde a Madre de Deus até Santos-o-Velho. IV Volume, Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1940, p.152.
CASTILHO, Júlio de, Bairro Alto. III e IV Volume, Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1940.
CASTILHO, Júlio de, Lisboa antiga: bairros orientais, IV, V, VII, XI, volume, Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1937.