Tuesday, 31 July 2012

A carta da Rainha (Ngola) Nzingha

                                  C. 1583 - Matamba, 17 de Dezembro de 1663


A rainha Nzingha/Jinga/Ginga foi uma soberana Angolana durante o seculo XVII, dos reinos de Ndongo e Matamba e, que deu a vida em prol da luta contra a invasão colonial portuguesa.

Foi do título real da mesma, Ngola, da lingua Kimbundu, que se denominou o país.

Existem diversas cartas escritas e ordenadas por ela. Cartas essas que foram registradas por missionarios capuchinos (ordem religiosa Italiana). 

Neste dia 31 de Julho, dia Internacional da Mulher Africana, e' importante relembrar quem realmente a rainha foi. (A. kandimba).


Carta intregal de Nzinga Mbandi feita em 1626 a 03 de Fevereiro desde Kindonga:



«Eu vos saúdo daqui de Kindonga, Sr. Bento Banha, aonde de certeza vós não me achareis já. A mim e á minha corte comigo. estamos a caminho das terras altas deste nosso rico país, lá para as montanhas. Aí, sim me achareis. Mas de arco e lança na mão, e lanças peçonhentas, pois continuaremos a apeçonhar as nossas lanças, e com a pior espécie de peçonha que pode haver debaixo do céu. Rogo a v/fineza ide isso dizer ao que vos manda.

Ao v/Governador, Sr. Fernão de Sousa. Ide dar-lhe este meu recado. E dizei-le também que o nome de ANA DE SOUSA que o outro me quis oferecer não pegou. Não podia pegar.

O mesmo sucede com as minhas irmãs, a KAMBU não quer o nome de Bárbara, a Fuxi manda dizer que seu nome é mesmo Fuxi. que ide aplicar o nome de Engrácia às vossas filhas que is parindo, vós outros. Mau grado os esforços  todos meus  para uma possível conciliação entre vós e nós, e nós, entre as vossas coisas e as nossas.



Mas gostaria eu de vos perguntar se já vos capacitastes todos de que estais a bater-vos por uma razão de que nunca saireis vitoriosos. Talvez seja melhor lembrar-vos de que os filhos de meu pai não desistirão jamais de combater, hemos todos de lhe seguir o exemplo. A todo custo defenderem-los a Independência e a liberdade da terra de nossos  pais e avós. O fogo dos nossos pais. Os filhos, as mulheres , os servos, os bens. As nossas montanhas os vales, as campinas, as nossas matas. As árvores, as mulembas, os rios. A nossa terra. Que adoramos de toda e receamos que se venha a transformar para a vossa corrupta maneira de ser, sabido que vencedores não nos sereis. Mesmo   com um filho de nosso pai  a ajudar-vos, comboiando alguns bons  dos nossos, hemos de vos defrontar.

Armas não nos faltarão, e povos haverá neste mundo capaz de acudir a um apelo nosso, para vos correr com ferro e fogo. Já que a bem não quereis ir-vos daqui, e tão pouco querei portar-vos como um hóspede se deve portar em casa alheia, ou um amigo em casa amiga. O meu povo não quer cá na sua terra gente dessa natureza.



Juro um ódio de morte a vós todos.

Ao v/Governador, à v/raça; à v/Igreja. Aos v/Padres que trazem muito a Deus na boca, com a malvadez no coração. Blasfemos! Feiticeiros! A v/arrogância está a ensinar-me que um outro caminho não hemos nós de seguir que não este:fogo e ferro.


Termino desejando-vos a mais perfeita saúde, sr. Bento Banha Cardoso, para nos avistarmos um dia».

                                                                                        
Ass): Nzinga Mbandi Ngola.




Foto: Rainha Nzingha Expo 2010 Shanghai, China (Damianne Presidente)
Fontes: Etumbuluko Lye Limi Lyumbundu

Para mais Informacoes em relacao as cartas escritas pela rainha, pesquise os trabalhos de John K. Thornton.

Outros links:
http://www.africafederation.net/Ndongo_History.htm

http://spiritosanto.wordpress.com/2012/06/20/preto-novo-preto-veio-na-pista-a-busca-do-lenitivo-da-dor/pipe-jinga-fuma-cachimbo/